1Segundo balanço da CBIC, redução dos lançamentos no primeiro trimestre indica que confiança dos consumidores é maior que a dos incorporadores
 
Entre janeiro e março de 2018, as vendas de unidades residenciais cresceram 22,3% no Brasil, em comparação com o primeiro trimestre do ano anterior. No entanto, a recuperação do mercado imobiliário, iniciada no final do ano passado, ainda não foi suficiente para estimular as empresas a lançarem novos empreendimentos. As vendas superaram os lançamentos – que tiveram uma queda de 30,7% no período – em exatas 14.138 unidades, número que representa 57,2% do total vendido. Estes dados são alguns dos destaques do estudo “Indicadores Imobiliários Nacionais”, iniciativa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em correalização com o Senai Nacional, divulgado nesta quarta-feira (30/5).
 
Com o aumento das vendas e a diminuição dos lançamentos, houve uma redução expressiva do estoque no final do trimestre. A oferta final de unidades residenciais, em março de 2018, foi 14,8% menor quando comparado a igual período de 2017. O levantamento revela que está havendo um atendimento da demanda reprimida dos últimos anos, porém, sem que a confiança dos empresários na economia tenha se consolidado.
 
“Esse resultado mostra que temos um mercado imobiliário ansioso por comprar imóveis, porém não estamos conseguindo entregar os produtos adequadamente. Em nossa leitura, isso é um problema de falta de crédito”, afirma José Carlos Martins, presidente da CBIC. De acordo com o dirigente, as empresas estão muito debilitadas devido à crise e não têm um balanço adequado para receber o crédito que recebiam no passado. Por sua vez, os agentes financeiros também estão mais restritos e temerosos.
 
Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) da CBIC e responsável pelo estudo, concorda: “O mercado de lançamentos e vendas depende muito da confiança que se tem no País, tanto do incorporador imobiliário quanto das pessoas para quem são ofertados esses produtos. O que percebemos é que a confiança dos consumidores está maior do que a confiança dos incorporadores”, explica.
 
Martins reforça que a proposta da CBIC é criar mecanismos para melhorar a concessão de crédito e haver algum tipo de flexibilização. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB), que mostra retração da construção civil no primeiro trimestre deste ano, é outra demonstração, segundo o presidente da CBIC, de que o setor precisa ter novos incentivos e novos mecanismos que estimulem o investimento.
 
INDICADORES IMOBILIÁRIOS
 
No primeiro trimestre deste ano, foram vendidas 24.712 unidades residenciais, quantidade superior às 20.209 unidades de 2017. O grande destaque foi a região Centro-Oeste, com um incremento de 62,6% no número de vendas, sendo seguido pelo Sudeste (+26,3%). O Norte foi a única região com variação negativa (-22,1%), tendo Belém e Manaus as maiores quedas em vendas. Das regiões pesquisadas, as regiões metropolitanas de Fortaleza, João Pessoa, Maceió e Recife estão na frente em volume de vendas.
 
Em relação aos lançamentos, o resultado caiu de 15.255 unidades lançadas nos três primeiros meses de 2017 para 10.574 unidades, em 2018. Enquanto no Norte não foram registrados lançamentos nesse período, o Nordeste manteve-se estável, com cerca de 4 mil unidades lançadas. Centro-Oeste (-62,1%) e Sul (-63,6%) tiveram retração similar; e as regiões metropolitanas de capitais nordestinas compõem as localidades com maior (João Pessoa, Maceió e São Luís) e menor (Fortaleza, Natal e Recife – atrás apenas de Belém) número de lançamentos.
Com isso, a oferta final disponível de residenciais novos passou de 144.398 unidades, em março de 2017, para 123.055, no último mês de março. A oferta caiu em todas as regiões, especialmente no Sudeste (-19,7%) e, dentre todas as localidades pesquisadas, apenas cinco observaram aumento na oferta final: Belém, região metropolitana de Maceió, São Luís, Cuiabá e Curitiba – juntas representando 18,3% do total de oferta.
 
O estudo também mostra que 52% das unidades ofertadas encontram-se em construção, 33% estão prontas e 20%, na planta. Mais da metade é composta por dois dormitórios (54,5%) e o preço médio por metro quadrado de área privativa está em R$ 6.042,00.
 
Quanto à participação das regiões nesse cenário, o Sudeste continua sendo a principal praça no Brasil. É lá onde realizam 49,6% dos lançamentos, onde acontecem 48,5% das vendas e onde se encontra 41,5% da oferta final. Em seguida, aparece o Nordeste com 38% dos lançamentos, 23,4% das vendas e 28,4% da oferta.
 
CENÁRIO ATUAL E FUTURO
 
Celso Petrucci avalia que o resultado do primeiro trimestre reflete a tendência de melhoria das vendas em relação a 2017, acompanhada também pelo crescimento dos financiamentos imobiliários com recursos da caderneta de poupança. A continuidade das contratações do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), a baixa da taxa de juros, a Selic a 6,5%, a inflação sob controle no primeiro trimestre e a geração de empregos formais são alguns dos indicadores micro e macroeconômicos que estão dando maior confiança aos compradores. “O que precisamos é que isso contamine positivamente os incorporadores. A desconfiança no futuro do País, a falta de segurança, ainda é muito grande”, diz.
 
O presidente da CII/CBIC informa também que há certa apreensão no mercado imobiliário em relação ao restante do ano devido à crise política/institucional instalada, e que foi potencializada pela recente paralisação. “Não sabemos até que ponto isso vai afetar a própria economia e o nosso mercado imobiliário. Sendo assim, o segundo trimestre deve ter um movimento parecido com o do primeiro”, considera Petrucci, ainda acreditando que este será um ano com mais vendas, em razão da demanda que ficou reprimida pelos anos de crise.
 
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