Famílias de povoado demoravam até 4 horas em busca de água; desenvolvido pelo Governo de AL, equipamento faz parte do Programa de Perfuração de Poços
As mudanças climatológicas podem dificultar o acesso à água. Fornecido pela natureza, quando chega a estiagem o líquido fica escasso em algumas cidades, como aconteceu no município de Capela, na Zona da Mata alagoana, com a seca do Rio Paraíba, que comprometeu a vazão e o rio chegou a quase zerar a capacidade. Para obter água potável, moradores do Povoado Fazenda Vieira chegavam a caminhar quatro horas por dia.
A busca por água ficou no passado e o sofrimento deu lugar a novas perspectivas para a vida de quem enfrentou as árduas consequências da seca.
As muitas horas guiando um carro de mão com baldes de água diminuíram para apenas alguns minutos com a construção de um poço. As famílias que moram no local viviam uma verdadeira peregrinação para conseguir água - que muitas vezes não era própria para o consumo.
Desenvolvido pelo Governo do Estado, o equipamento faz parte do Programa de Perfuração de Poços, desenvolvido pelo Governo do Estado com colaboração do Programa Água Para Todos. Mais de 600 poços artesianos foram perfurados em todas as regiões pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) em 2017. Ao todo, cerca de 200 mil pessoas foram beneficiadas pelos programas hídricos do Governo de Alagoas desde 2015.
O fornecimento de água aos moradores da comunidade Fazenda Vieira chegou em março do ano passado com a perfuração do poço - que capta o líquido direto dos lençóis freáticos - e fornece dez mil litros de água por dia para as 30 famílias do povoado.
Com a água disponível durante todo o dia, a dona de casa Maria Patrícia da Silva França, de 28 anos, relembrou os tempos de dificuldade e em como a vida foi transformada. Ela explicou que era necessário ir a dois locais todos os dias. Segundo ela, os locais para encontrar água para cozinhar e água para as atividades domésticas eram situados em pontos diferentes do povoado.
Patrícia contou que dava quatro viagens por dia, cada uma com duração de meia hora de caminhada, para encher os baldes e ter água suficiente em casa por 24 horas.
“Tinha dia que a gente não aguentava e era só uma [viagem]. Era muito difícil. A gente saía 5h30 e chegava 7h30 só pra buscar água de beber e depois eram mais duas horas para conseguir água para lavar as roupas”. Quando havia indisposição física provocada por alguma doença, ela não podia descansar e deixar para buscar água no dia seguinte, porque corria o risco de não encontrar.
Após a perfuração do poço, ela disse que a realidade de angústia pela água ficou no passado e aproveita o tempo livre para descansar e se dedicar à família. “Perdia muito tempo do dia me preocupando com a água e transportando, agora é mais tranquilo”.
Com a facilidade promovida pelo abastecimento de água, a família consegue se reunir no quintal para conversar, brincar com as crianças e não destinar o tempo apenas para trazer o líquido para casa.
“A gente é rico porque tem água”
Os anos de sofrimento com o desabastecimento e a seca ficaram no passado, mas os moradores do Povoado não esquecem das dificuldades com o objetivo de preservar a água disponível.
Na avaliação de Paulo Jorge de Oliveira, de 44 anos, a aflição da procura por água foi reduzida a “zero”. Ele destacou que se o poço não tivesse sido perfurado as dificuldades não cessariam. “A caixa que colocaram aqui é o mesmo que estar rico, a gente é rico porque tem água”.
Paulo e os outros moradores buscavam água no Rio Paraíba, mas a seca dos últimos anos - que comprometeu a vazão do rio e ficou praticamente sem água - agravou a crise hídrica na cidade e dificultou ainda mais o abastecimento na Fazenda Vieira.
Família dividia balde para tomar banho
A seca atingiu de forma drástica a família de Cícero Ferreira da Hora, de 58 anos, a tal ponto que era preciso dividir com a mulher e os seis filhos um balde com 20 litros de água para que todos tomassem banho.
Ele contou que havia dias em que chegava do trabalho e demorava duas horas para encher um balde numa cacimba que fica perto da casa dele; em outras ocasiões nem isso ele conseguia. Quando não encontrava água, o jeito era passar o dia sem tomar banho e sem fazer as atividades domésticas.
“Depois que colocou [o poço], para vista do que era melhorou demais. Pegava água potável da cacimba, que não dá para comunidade toda. Antes, o jeito era ir para a barragem, levar toda a família para lá para tomar banho. Hoje, para vista do que a gente estava, toma mais de um banho por dia. Quando a gente vê tem água em abundância de verdade”, enfatizou Cícero.