
Inicialmente prevista para entrar em vigor em janeiro, a medida pode ter seu início antecipado para setembro, o que certamente contribuiria para oxigenar as vendas de imóveis ainda neste ano. Apenas há que se tomar o cuidado de que o FGTS não venha a ser esvaziado dos recursos necessários para uma de suas principais finalidades: o financiamento a habitação popular, obras de saneamento e transportes urbanos.
Também a partir de janeiro próximo os bancos contarão com mais estímulos para oferecer financiamento à aquisição de imóveis com valor de até R$ 500 mil. Esta faixa concentra a maior demanda do mercado, e assim deverá ter mais crédito à sua disposição. Os bancos precisarão continuar investindo 65% dos recursos em crédito imobiliário, porém sem a obrigatoriedade de destinar 80% desse total para imóveis residenciais em contratos no Sistema Financeiro da Habitação. A expectativa é de que não faltem recursos para as operações tanto dentro como fora do SFH.
A essas notícias somam-se as boas novas da Caixa Econômica, que na semana passada anunciou nova queda na taxa de juros, tanto no SFH quanto Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). Além disso, a instituição passa a financiar até 80% do valor de imóveis usados, o que fomentará sua comercialização.
Na esteira da Caixa e diante da persistência do reduzido patamar da inflação, possivelmente outros bancos também diminuirão suas taxas de juros, na sequência de um movimento iniciado ainda em 2017.
Paralelamente, o preço anunciado médio dos imóveis residenciais já caiu em termos reais 1,31% no primeiro semestre de 2018, segundo a pesquisa Fipezap. A queda de preços e de juros e a existência de recursos suficientes para o financiamento imobiliário constroem um cenário favorável ao aumento da demanda.
Entretanto, a indústria da construção civil segue em compasso de espera. A Sondagem Nacional da Construção feita pela Fundação Getúlio Vargas mostrou ligeira melhora da percepção atual dos negócios: o Índice de Situação Atual aumentou pelo terceiro mês seguido, mas ainda está em 71,7 pontos (abaixo de 100 pontos a enquete denota pessimismo).
Já o Índice de Confiança do setor, que mede as expectativas em relação ao futuro, caiu 1,6 ponto em agosto, descendo para 79,4 pontos. Na avaliação da FGV, o resultado sugere uma piora mais definitiva no cenário de retomada vislumbrado anteriormente pelas empresas da construção. Persistem as incertezas em relação ao resultado das eleições e à política econômica do futuro governo.
A atividade da construção como um todo ainda permanece em um patamar reduzido. É possível até que cheguemos ao final do ano com um crescimento de 0,5% no PIB da construção. Se ocorrer, será mais impulsionado pelos segmentos de autoconstrução e reformas, do que pelo segmento de edificações e obras de infraestrutura. Uma reativação mais firme só é esperada a partir do ano que vem.
Por José Romeu Ferraz Neto, presidente do Sinduscon-SP e vice-presidente da CBIC
Fonte: O Estado de S. Paulo, Artigo, 02/09/18