Enquanto o cenário eleitoral se mostra nebuloso quando o assunto é quem assumirá o cargo mais alto do executivo brasileiro, entidades e empresários do ramo da construção se mostram uníssonos quanto a uma questão: independente de quem leve a corrida de presidencial, o programa Minha Casa Minha Vida será vital para a retomada da construção.
Diante de um cenário de incertezas quanto ao caminho econômico que o País seguirá dependendo da legenda que assuma o planalto, o professor de engenharia da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Sindicato da Habitação do Distrito Federal, Hermes Freitas, diz que poucas questões são tão uniformes entre potenciais candidatos que a continuidade do programa habitacional.
"Todos os candidatos, independente do espectro político, falam em manutenção do programa, ainda que algumas diretrizes [como perfil do beneficiado] mudem de partido para partido."
Entre as vantagens para manutenção do programa, o estímulo ao emprego é um dos mais citados. "Independente se a obra será para as classes D e E, ou faixas intermediarias, o fato é que empreendimentos como esses podem estimular a geração de emprego em cidades mais afastadas", completa.
De modo similar pensa o diretor da ConstruMinas, Ricardo Leite. A empresa, que atua com empreendimentos no bojo do programa desde 2013, conta que a queda brusca os repasses federais gerou problemas que vão além da menor receita da empresa. "Atuamos em pequenas cidades no interior de Minas Gerais, e em muitas delas a atividade da construção movimenta a economia como um todo", conta ele, que tem empreendimentos em cidades como Pouso Alegre, São João Batista do Glória, Tiradentes e Mariana.
De acordo com o executivo, um dos desafios do próximo presidente será destravar os negócios, que muita vezes ficam parados. "Sabemos de obras paradas desde 2012. Isso é um absurdo. O medo de calote do governo torna as faixas intermediárias [onde o comprador tem mais que dois salários mínimos mensais] mais atraentes para o construtor."
Para este ano, a expectativa do governo é que o programa contrate 650 mil novas unidades, sendo 130 mil delas voltadas para a chamada Faixa 1.
Números expressivos. Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) divulgado na última sexta-feira retrata a importância do programa habitacional criado em 2009, durante o segundo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o estudo, em 12 meses até maio, 73% dos lançamentos imobiliários se enquadravam nessas categorias, enquanto 64,9% das vendas totais eram de unidades do programa (veja mais no gráfico).
"Esse programa tem bom desempenho porque computa a renda familiar na avaliação de crédito; parcela a compra em até 30 anos; tem a menor taxa de juros do mercado; aceita o pagamento da entrada e as parcelas com o saldo do FGTS; tem prestações decrescentes ao longo dos anos; oferece simulador na Caixa Econômica Federal, onde pode ser avaliada a capacidade de compra da família", diz o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza.
O levantamento da Abrainc, que reúne informações das maiores construtoras brasileiras, mostra que em maio deste ano foram lançadas, ao todo, 8,9 mil unidades (alta de 53,3% na comparação anual), ao passo que 10,8 mil imóveis foram vendidos (+ 15,2% na mesma base de comparação).
Outro indicador que sinaliza bem o momento da construção é o indicador de atividade da, compilado mensalmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo o estudo, o setor encerrou junho com uma queda menos acentuada que no mês anterior, atingindo 46,7 pontos. O número, que segue abaixo da linha divisória de 50 pontos, indica retração do segmento. Em maio, porém, quando houve a greve dos caminhoneiros, o indicador chegou a 44,4 pontos. Em junho de 2017, o índice estava ainda pior (42,8 pontos). O uso da capacidade instalada subiu em junho para 59% ante 57% no mês anterior.