Quem sonha em ter casa própria com muitos metros quadrados e de alto padrão terá mais chances de viabilizar o negócio com recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
A medida que aumenta o limite do valor do financiamento deveria entrar em vigor em janeiro de 2019, mas pode ser antecipada para valer ainda neste ano. Especialistas já apostam em um "miniboom" no mercado, prevendo aumento da demanda.
Apesar de sinais de uma retomada econômica, com juros e inflação em queda, a procura por imóveis grandes ainda é fraca. Em 12 meses até maio, lançamentos de médio e de alto padrão aumentaram 69,6%, mas as vendas caíram 1,9%, segundo a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias).
Para reverter esse cenário e reativar o mercado, o governo anunciou ações de estímulo ao crédito. No ano passado, o PIB da construção civil caiu 5%, disparando reclamações do setor por incentivos que pudessem reequilibrar ou recompor parte da demanda.
Entre as principais mudanças anunciadas está o aumento do teto do valor financiado dentro do SFH (Sistema Financeiro de Habitação), que será ampliado para R$ 1,5 milhão em todo o país.
Hoje, o limite é de R$ 950 mil nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Distrito Federal. Nos demais estados, o teto é de R$ 800 mil.
O sistema regula a maioria dos financiamentos imobiliários no Brasil e usa recursos do FGTS ou da poupança.
O teto de R$ 1,5 milhão valeu temporariamente em 2017. A experiência foi considerada positiva e, agora, a medida deverá ter caráter permanente.
Nas áreas nobres de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o limite de R$ 950 mil restringe a possibilidade para a compra de residência com, no máximo, 75 metros quadrados e dois ou três quartos, segundo o diretor financeiro da Gamaro Incorporadora, Augusto Yokoyama.
"Com o novo limite, clientes vão conseguir comprar imóveis de até 120 metros quadrados e quatro quartos nessas regiões", diz Yokoyama.
Em São Paulo, os compradores podem achar imóveis de até R$ 1,5 milhão com 120 metros quadrados em bairros como Vila Olímpia, Brooklin e Campo Belo.
Nos bairros de Moema, Itaim Bibi, Pinheiros e Vila Madalena, mais valorizados, é possível achar opções nessa faixa de valor com até 110 metros quadrados e três dormitórios, segundo Yokoyama.
Ele espera aumento de 20% a 30% nas vendas de unidades de alto padrão na cidade de São Paulo a partir de 2019.
Na prática, o cliente poderá sacar o FGTS para abater o saldo devedor do imóvel ou evitar eventuais empréstimos bancários. Também terá acesso a juros mais baixos, já que nos financiamentos pelo SFH eles são limitados a 12% ao ano, com atualização do saldo devedor pela TR (Taxa Referencial). Essas taxas costumam ser menores do que as praticadas em outras modalidades de crédito.
Para a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), a mudança irá beneficiar não só a construção civil, mas a economia como um todo. Segundo a entidade, além do imóvel em si, indústrias do mobiliário e de eletrodomésticos também serão estimuladas, por exemplo.
De acordo com o governo, as mudanças injetarão cerca de R$ 80 bilhões no setor da construção civil em seis anos.
Segundo incorporadoras, a medida deve aumentar o emprego no setor a longo prazo, uma vez que ainda existem muitos imóveis vazios e investidores tendem a esperar a venda dessas unidades para fazer novos lançamentos.
O administrador de empresas Vinicius Deleo, 43, viu a família crescer e já almeja sacar o FGTS para comprar um imóvel maior no Brooklin, na zona sul de São Paulo.
"Comecei a pesquisar os imóveis que são do meu interesse. Agora a vontade é mais real, porque antes era só um sonho", afirma Deleo.
Além do aumento do teto para comprar imóvel com FGTS, o governo flexibilizou as regras para empréstimo imobiliário pelos bancos. Instituições que concederem crédito de até R$ 500 mil também terão facilidades.
De acordo com a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), o financiamento de imóveis somou R$ 56,8 bilhões com recursos da poupança e do FGTS no primeiro semestre deste ano, o que representa pouco mais de 35% do valor total de 2014, que foi de R$ 155 bilhões.
Segundo o presidente da entidade, Gilberto Duarte de Abreu Filho, o valor caiu por causa de uma combinação de fatores, como juros e inflação altos e um cenário de pessimismo. A previsão para este ano, entretanto, é de melhora em relação ao ano passado.
"Entendemos que vamos ter crescimento no nosso mercado, tanto nos estoques prontos quanto em imóveis na planta", diz a diretora da Lopes Consultoria de Imóveis Mirella Parpinelle. Ela informa que, no segundo semestre, 90% do valor geral de vendas da empresa virá de unidades que custam até R$ 1,5 milhão.
Para aproveitar o fundo, o comprador precisa ter no mínimo três anos de trabalho sob o regime de FGTS. Ele não pode ter outro financiamento SFH ou ser dono de imóvel.