Em função da baixa procura para a compra de imóveis durante a crise, incorporadoras encontraram na moradia compartilhada uma forma de garantir o faturamento. Seguindo tendências estrangeiras as empresas atingem, principalmente, a geração de millenials.
Este é o caso da incorporadora do Grupo Mitre, que inaugurou em agosto deste ano o Share Student Living, empreendimento voltado exclusivamente para moradia estudantil por meio de aluguel. Localizado na região da Consolação, na cidade de São Paulo, o edifício conta com cinco tamanhos de apartamentos a partir de 25m². O local conta com serviços de limpeza, academia, lavanderia, áreas de lazer, bicicletas compartilhadas, salas de estudo e aluguel de carro.
Acostumados com o desemprego e recebendo salários escassos, a alternativa os millenials foi partir para os compartilhamentos, principalmente utilizando a tecnologia. “Para que haja a condição de compra do imóvel é preciso que o mercado responda com oferta de emprego para este público, juntamente com a movimentação da economia”, analisa a gerente de financial advisory da Deloitte, Ana Carnaúba.
Diferente do empreendimento da Mitre, que aceita somente estudantes, a Gamaro inaugurou, em julho deste ano, o Kasa, um edifício de moradia compartilhada voltado tanto para universitários quanto para executivos. O imóvel está localizado na Vila Olímpia, em São Paulo, e próximo a faculdades e centros empresariais. A incorporadora disponibiliza dois tipos de apartamentos: um individual (com apenas uma cama) e um compartilhado (com mais de uma cama), ambos com 64m².
No Share Student Living, os serviços já estão inclusos no preço do condomínio – com exceção do aluguel de carros e da lavanderia. Já no Kasa, todos os serviços são pagos à parte de acordo com as necessidades de uso de cada morador. “Não são todas as pessoas que utilizam academia, vagas de estacionamento e lavanderia, por isso achamos mais justo baratear o condomínio oferecendo somente o básico”, explica o gerente geral do Kasa, Renato Marostega.
Para administrar o empreendimento, a Mitre conta com parceria da Redstone Residential, operadora de residências estudantis presente nos EUA e no Canadá. No caso da Gamaro, a gestão é totalmente realizada pela própria incorporadora. Segundo Ana, é preciso cuidado ao gerenciar negócios deste tipo: “É uma receita que deve ser cautelosa, porque a empresa é responsável por garantir a qualidade a longo prazo e evitar a evasão de aluguéis”, ressalta.
A Mitre investiu em torno de R$ 45 milhões no primeiro empreendimento com a marca Share Student Living e pretende construir mais unidades, uma delas no bairro do Butantã, também em São Paulo. Para a especialista em negócios imobiliários, Paula Farias, a taxa de retorno para as incorporadoras acaba saindo acima da média de mercado: “Ao invés de apenas vender os imóveis na planta ou após a inauguração, as empresas conseguem aplicar o aluguel sobre a valorização, que tende a crescer.” Segundo índice da Fipe Zap, o retorno médio anualizado do aluguel foi de 4,4% em agosto de 2018. Já para Ana, este investimento, diferentemente de apartamentos construídos para venda, conta com retorno a um prazo bem maior.
Tendência ou não? - A cultura brasileira, segundo ambas as especialistas, prega uma necessidade de adquirir a casa própria. “Incorporadoras e imobiliárias ainda enfrentam a barreira da ideia de que comprar imóveis ainda é necessário, tanto para o futuro quando por questões de necessidade”, comenta Paula. Entretanto, para Ana, esta tendência é passageira e está mais ligada à necessidade de uma geração do que a uma mudança por escolha: “O discurso mostra que, futuramente, pretendem adquirir bens como imóveis.”